quarta-feira, 24 de março de 2010

Tendo em vista as dificuldades que eu, meus colegas e calouros estamos enfrentando, achei justo, digno e o mínimo que eu poderia fazer publicar um texto referente a nossos problemas para contribuir com a divulgação e para que meus amigos possam se tornar cientes e, também, divulgar para, direta ou indiretamente, tentarmos, juntos, solucionar ou, ao menos, minimizar, os problemas dos discentes de Medicina - UESB Jequié.

Por isso, peço a compreensão para o certo desvio da proposta do blog para expor um texto utilizado por nós para divulgar nossa situação e comunico que entramos em greve em 15.03.2010. Segue o texto:


Quando o discurso é mais importante do que salvar vidas

Discentes de Medicina – UESB Jequié

Eis o resultado da subordinação da Educação ao âmbito Político: a implantação de um curso de Medicina sem infra-estrutura básica. É um absurdo verificar que o tão sonhado curso de Medicina na cidade de Jequié foi implantado como resultado de jogos políticos.

Mal chegou à referida cidade, o curso ganhou vários pais. Faltou apenas alguém que sustentasse. Aliás, surge uma dúvida: seria “pai” aquele que põe no mundo ou aquele que cria e sustenta?

Enfim, os problemas apareceram! E, com eles, veio a frustração, tanto de discentes, quanto de professores e da própria comunidade. O que muitos já previam veio à tona: a implantação do curso se concretizou sem uma prévia estruturação mínima necessária.
Como conceber a criação de um curso sem se ampliar, antes, o espaço físico? Aliás, muitos outros cursos foram criados sem se levar em consideração um aumento no número de salas. A construção de um prédio para suprir essa necessidade está em andamento, porém caminha “com passos de formiga e sem vontade”. Dessa forma, como se acomodar à situação? Mesmo que, temporariamente, o problema de salas seja resolvido, não cometamos o erro, mais uma vez, de ignorar o futuro! Devemos pensar no porvir se quisermos, verdadeiramente, que os cursos funcionem. E, pelo andar (lentíssimo) da carruagem, as futuras turmas sofrerão com o mesmo problema. Melhor do que resolvê-lo é evitá-lo.

Não bastasse a quantidade, a qualidade da infra-estrutura existente também é insatisfatória: as salas constituem-se em espaços inadequados a um processo de ensino-aprendizagem eficiente e muitas não possuem iluminação nem climatização adequadas a um processo pedagógico produtivo.

Outro aspecto a se observar é a dificuldade de acesso a algumas (das já insuficientes) salas. Construir sala por construir tendo em vista soluções a curto prazo talvez não seja o mais adequado. Afinal, a qualidade deve ser considerada, pois se dizem por aí que a verba já é curta, por que gastá-la com construções que se tornarão inviáveis? É mais lógico reforçar a infra-estrutura para depois implantar cursos, mas o que vem sendo feito é justamente o oposto.

Só que essa é apenas uma pequena amostra dos problemas enfrentados pelos discentes, em especial, do curso de Medicina. Um Edital foi aberto para o preenchimento de vagas para professores, mas para alguns dos módulos não houve inscritos ou aprovados. Assim sendo, alguns módulos estão sem docentes. A pergunta que fica é: como prosseguir com um curso sem alguns dos professores? Por mais que medidas sejam tomadas, não há como se aceitar que o curso continue sem que os professores sejam contratados e estejam ministrando as aulas que lhes competem.


Mas consideremos a chegada dos professores à Universidade em tempo recorde ou, ainda, o cumprimento de medidas paliativas. Como pôr em prática o que determina as Diretrizes do curso se os professores não são capacitados para se adequar ao método proposto? Por mais que muitos dos professores que ministram aulas ao curso de Medicina sejam bons, eles não estão acostumados nem conseguiram se adaptar ainda à metodologia modular que rege o curso. A proposta de Currículo Integrado, presente no Projeto de Implantação do curso, ainda é confusa tanto para discentes quanto para os docentes.

Agora vamos imaginar que esses problemas fossem resolvidos. O que seria feito em relação aos materiais e equipamentos dos laboratórios? Muitos dos professores se queixam da falta dessa instrumentalização para fornecer suporte às aulas práticas. Aliás, um dos laboratórios fundamentais para o curso, o Laboratório Morfofuncional, ainda nem começou a ser construído e duas turmas já ingressaram na Universidade. Que turma conseguirá usufruir desse laboratório? Quando ele estará devidamente equipado? Como formar médicos sem aulas práticas?

É! Os problemas são muitos e ainda estão só começando. A demanda por determinados livros é muito grande, pois vários cursos fazem uso deles. Assim, a quantidade disponível torna-se insuficiente para atender aos discentes de forma satisfatória. E, quando pedidos, os livros demoram a chegar. Além disso, há a necessidade de diversificação e atualização dos títulos. O contato com visões diferentes e atualizadas só faz enriquecer o aprendizado e desenvolver o senso crítico do corpo discente e daqueles que possuem acesso ao acervo da Biblioteca.


Tudo bem que está se pensando em uma nova construção: o tão famoso Módulo de Saúde! Porém, esse espaço ainda se encontra em fase inicial (bem inicial, diga-se de passagem) e não há garantias de que estará pronto em tempo hábil. Aliás, nem é certo de que ele estará apto a receber os discentes e a oferecer a estrutura para as aulas a tempo de as turmas que, até então, ingressaram no curso conseguirem usufruir da edificação. As obras têm prazos, mas podem ser descumpridos. E isso tem ocorrido com certa freqüência no campus de Jequié.


Somente para finalizar a lista enorme de problemas, que, por sinal, não foram abordados em toda a sua plenitude, muitos profissionais médicos alegam que o único hospital público da cidade (Hospital Geral Prado Valadares), voltado basicamente para urgência e emergência, não oferece infra-estrutura para, no futuro, abrigar internos. Mesmo que tivesse, há a necessidade urgente da construção de um Hospital Universitário, devidamente adequado e destinado a fornecer o suporte básico de que os discentes de saúde precisam. Além de viabilizar, no futuro (esperamos que não muito distante), a criação de Residências Médicas, seria de grande benefício e preciosidade para a comunidade.


Não podemos mais (aliás, nunca podemos) aceitar o discurso de que “Universidade pública é assim mesmo!” ou “as coisas não funcionam no setor público, não adianta lutar”. Não é porque há uma constância e acomodação quase que geral em relação aos problemas de outras instituições públicas que todos devem se acomodar. A Educação é um direito de todos! E o mínimo que se pode esperar como fruto dos nossos investimentos sob a forma de impostos é que ela seja digna e de qualidade!



É isso aê! Espero poder contar com a colaboração de todos!