sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Igualdade de gênero?

Muito se fala por aí em igualdade de gênero... Mas, ao mesmo tempo, é inegável a existência de diferenças anatômicas, fisiológicas, genéticas, psíquicas, culturais, sociais etc que se estabeleceu, se determinou, se concebeu ou se convencionou, a partir de uma maioria, a definir como masculino ou feminino.  Infelizmente, como tudo pré-estabelecido ou pré-concebido, aí mora um grande perigo...

Felizmente, não somos iguais. Há a necessidade de se classificar determinadas coisas para os fins mais diversos: definições, facilitação na comunicação, estudos epidemiológicos, sínteses, agrupamentos etc etc etc. Assim que somos classificados quanto à nossa faixa etária, grupo religioso, etnia, grupo sanguíneo, cor de cabelo, tamanho, biotipo, classe social, origem, família, estilos musicais que curtimos etc etc etc. Bem verdade, apesar de muitas coisas negativas que vêm com as classificações, elas são úteis e imprescindíveis. Na verdade, elas em si não representam nenhum mal, mas quando viram estereótipos e são usadas para discriminações mais que meramente classificatórias, implicando em exclusão e pré-conceitos, aí o bicho pega...

E é assim que ocorre com os gêneros. Determinou-se a existência de 2: masculino e feminino. E aí, foram-se englobando características comuns a cada um deles. Indivíduo XX, com grandes lábios, clitoris, vagna, utero, ovarios, com predominio de hormonios estrógenos, seios, curvas, voz aguda, pele macia, que devem brincar de boneca, vestir rosa, ser mãe, submisso, se depilar, pintar a unha etc será considerado do sexo feminino. Indivíduo XY, com testículos, pênis, próstata, vesículas seminais, com predominio de testoterona, pelos em grande quantidade, musculos avantajados, voz grave, pele àspera, que devem brincar de carrinho, vestir azul, ser o provedor, o mandante etc será considerado do sexo masculino. Fora que sexo masculino só pode se relacionar com o feminino, porque a sociedade (dependendo de qual) assim determinou! E deve seguir tal religião e ai de quem não tiver religião ou não acreditar no que os outros que se acham ditadores das lógicas sociais crêem! 

Só que as pessoas se esquecem que todos somos únicos. E podemos não preencher a todos os quesitos pré-estabelecidos pelos estereótipos criados. Nem a própria genética fica isenta disso. Assim, uma pessoa XX pode apresentar-se com o restantes das características ditas masculinas e viver sem saber disso... O que mostra que determinadas coisas em nossa vida não são tão importantes assim. E o que diremos dos hermafroditas? 

As características estão aí para serem combinadas das mais diversas formas, pois são independentes... Podem ter uma relação, se associar, mas em grande parte, também podem ocorrer de forma independente... Assim, biológico, psíquico, social e cultural e cada uma das coisas que os compõem interagem entre si de diversas formas. E um indivíduo XX pode ter um pênis e gostar de brincar de carrinho, mas tb pode ter uma vagina e tb gostar de brincar de carrinho. Não é isso que determina quem somos, nossa personalidade, nosso caráter, mesmo que haja influência... Isso me lembra o determinismo e o possibilismo que vemos em Geografia... Coisas podem influenciar, mas não determinam... Especialmente quando falamos de seres humanos...

Não somos uma receita pronta. Vamos acrescentando e retirando ingredientes no decorrer de nossos dias ou alterando suas quantidades. Algumas coisas estão fora de nosso controle, outras vão sendo moldadas, conforme nós mesmos e, muitas vezes, conforme o que os outros esperam... Só que não deveria haver o que esperar, pois ninguém é igual a ninguém. Se somos intolerantes com aqueles que não atendem às nossas expectativas, precisamos rever se o problema está neles ou na gente... Ou, se na verdade, não há problemas... Mas sim uma vasta possibilidade de construção de seres humanos que se acrescentem, se complementem e desmistifique a cultura de massa sem graça, óbvia e monótona tão enraizada em nossa mente.

PS: Obviamente entendo que a expressão "igualdade de gêneros" refere-se à igualdade de direitos pelo histórico de inferiorização do dito sexo feminino durante o processo histórico de nossa sociedade, mas inclusive, a proposta do texto é  também refletir sobre o uso da própria expressão...