segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

E viveram felizes para sempre...


E essa costuma ser a frase utilizada para finalizar histórias de ficção e, geralmente, envolve o final feliz de um casal, que em uma espécie de demonstração da concretização da frase, terminam se casando. E eis que a história "acaba". Mas será que depois dessa circunstância que tende a supostamente ratificar o "e viveram felizes para sempre" realmente houve/haverá felicidade eterna?

Recentemente, com a virada do ano, expus algumas reflexões a algumas pessoas sobre o quão inviável seria uma vida só de felicidades. E isso independe se você está só ou acompanhado. É impossível uma vida plenamente feliz da maneira como as pessoas costumam conceber felicidade! A menos que as pessoas compreendam que felicidade não está em não ter problemas, passar por dificuldades e sofrimentos, mas sim em conseguir lidar com isso de maneira harmônica, saudável e eficaz, a felicidade será sempre um bem maior a se alcançar e isso até pode ser saudável, pois o homem sempre terá uma motivação para continuar se inspirando. Mas aonde eu quero chegar não é bem nisso...

Culturalmente, nos foi imposta a idéia de que para tudo fiar bem, basta um simples, pontual, transitório ato: o casamento. As pessoas se relacionam diariamente, trocam experiências diariamente, divertem-se, sofrem, compartilham, brigam, alegram-se, entristecem-se por toda uma vida só e conjugada e parece que para tudo dar certo no fim, precisa ter a tal oficialização!

Nas novelas, sempre nos últimos capítulos, têm os casamentos mais esperados. Entre os mocinhos e as mocinhas (como se o fato de os vilões não se casarem fossem o castigo para eles). Mas será que realmente tudo ocorre bem após o “eu vos declaro, marido e mulher” (claro, não estou desconsiderando uniões civis nem tampouco as menos convencionais, como entre pessoas do mesmo sexo)? Infelizmente, pelas telinhas, nunca saberemos, á que o fim da história é justamente o matrimônio. Mas, por minhas observações na vida real, vejo que é justamente o começo... O começo de uma nova vida. Seguindo os habituais e tradicionais passos, as pessoas deixam de morar separadas (o que já vem mudando), para conviver com a pessoa. E aí surgem novidades... As pessoas se conhecem mais, inclusive conhece melhor os defeitos uns dos outros (e também melhor as qualidades, mas que, pra variar, acabam indo pra escanteio quando os defeitos aparecem). Em alguns casos, vêm os filhos, o aumento das responsabilidades, dos encontros cara a cara, das expectativas nutridas ao longo de uma vida (e em grande parte, socialmente/culturalmente, plantadas e regadas). E, como as pessoas não esperavam por isso, pois achavam que a união oficial concretizaria o “e viveram felizes para sempre”, acabam se desesperando, se angustiando. Alguns optam por divórcio. Outros preferem tentar para não desmanchar sua imagem frente à sociedade. Outros simplesmente se acomodam. Enfim, a variedade de comportamentos em resposta ao não imaginado reflete a diversidade de variáveis envolvidas, inclusive as personalidades, desejos, receios, faltas de interesse e aspectos sociais culturalmente aceitos.

Assim, é como se o castelo que foi sendo construído desabasse e algumas pessoas chegam a se sentir culpadas, não entendendo que as pessoas mudam, principalmente quando circunstâncias mudam. Ou, ao menos, mudam a forma como se mostram. Não que elas quisessem esconder algo, mas naturalmente algumas características só se sobressaem em determinados contextos.
Isso me faz lembrar uma reflexão antiga que eu tinha em relação à escola. Na escola (assim como no trabalho), momento em que costumamos passar a maior parte de uma das fases de nossa vida, coincide também com as rixas, rivalidades, etc etc etc, pois os colegas chegam a te conhecer melhor do que seus próprios pais, às vezes, já que é com quem você mais convive e, consequentemente, expressa mais a essência de sua personalidade, até porque você tende a acabar enfrentando muito mais situações diversas onde você passa a maior parte do seu tempo do que onde você praticamente só come e dorme. Se algum colega seu expor uma característica sua, é capaz de sua família dizer que não se trata de você, que é uma pessoa estranha, que nunca notou isso em você. E isso não ocorre só com características negativas, mas também positivas. E, nesse caso, é ainda pior, pois membros da própria família se conhecem menos e nutrem menos afeto e amor sinceros do que amigos de escola/trabalho.

Às vezes, não é só a família que está de fora, mas também o companheiro sentimental. E eles só vão perceber que muita coisa um do outro se deixou passar no tempo em que se relacionaram quando passam a conviver mais um com o outro e podem acabar descobrindo que “e viveram felizes para sempre” é uma lenda.

Temos responsabilidade por nossos atos, expectativas, exposições completas de nossas personalidades, qualidades e defeitos, mas não podemos negar a influência social e circunstancial a que tudo isto está submetido.

Não importa se uma união é oficial ou não perante a Igreja, o cartório ou a sociedade (mesmo cada um desses tendo sua importância a depender do contexto e da pessoa), mas sim que ela exista de fato! E que, a partir dela, um conheça ao outro e, juntos possam compartilhar angústias, sofrimentos, sucessos e alegrias e um ajude ao outro a ressignificar o sentido de felicidade. E não é preciso conhecer um ao outro plenamente, até porque nem nós mesmos somos capazes disso e cada dia é um dia e tudo pode mudar. O interessante, é ir conhecendo a cada dia e as reconstruções que o outro é capaz de fazer diante das diversas situações que vão se impondo. E, se um dia, descobrirem que estão indo para caminhos muito distintos e não dá mais para sustentar a relação, não terem medo de continuar de uma outra forma, mesmo que separados, mas sempre buscando, de fato, viver feliz para sempre, mesmo que, para isso, seja necessário reinventar o significado de felicidade...

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